sábado, 15 de outubro de 2011

Clapton Is God



Dia 12 de outubro de 2011, feriado, e 45 mil pessoas com apenas uma coisa na cabeça: ver o show de Eric Clapton no estádio do Morumbi, em São Paulo. Os fãs do guitarrista chegaram aos poucos, de mansinho e civilizadamente ao local do show e aguardaram na fila para a abertura dos portões, que teve uma hora de atraso.

Uma vez lá dentro, a euforia e correria para garantir o melhor lugar, era geral. Pessoas de diversas faixas etárias sentiam a mesma emoção e expectativa para ver o último show da passagem de Clapton pelo Brasil. O público se acomodava, o DJ tocava clássicos do rock‘n’roll e o tempo não passava nunca. Digo isso pois sou muito fã e aguardava por esse momento há mais de 10 anos.

E é até um pouco difícil escrever sobre seu maior ídolo e sobre um evento que levou uma vida toda para acontecer. Mas também me conforta poder afirmar que foi, de fato, um show impecável. Porque foi mesmo, fazer o quê?!

Gary Clark Jr. foi o escolhido para abrir os shows do “Slowhand” em suas apresentações no País, e o cara manda muito bem na guitarra - com bastante ‘wah wah’ - e também na voz. Um belo e, logicamente, curto show.

Às 21h00 o ídolo inglês da guitarra subiu ao palco e tirou o fôlego de um estádio inteiro que o aguardava. Clapton diz: “este show é dedicado a Felipe Massa”. O piloto e ele se tornaram amigos por conta da admiração do músico por carros. Então tocou a conhecida base de blues, com sua guitarra Fender Stratocaster azul clara. Era “Key To The Highway”. Diferente dos shows em Porto Alegre e Rio de Janeiro, onde o primeiro número ficou por conta de “Going Down Slow”, que aqui foi deixada de fora.

O tímido Lord agradece manda “Tell The Truth”, com pegada mais lenta e o clássico do blues “Hoochie Coochie Man”, mais conhecido na voz de Muddy Waters e eternizado por muitos ‘bluesmen’. Na seqüência, “Old Love” veio para estremecer as estruturas emocionais com o solo sensacional que Eric improvisou e arrancou muitos aplausos, gritos e até lágrimas.

Para animar um pouco, “Tearin’ Us Apart”, que contou com a ajuda de suas backing vocals, Michelle John e Sharon White. O elegante e generoso Clapton abriu bastante espaço para os músicos de sua banda, especialmente aos tecladistas Tim Carmon e Chris Stanton, que puderam fazer seus solos algumas vezes ao longo da apresentação. O ídolo da bateria, Steve Gadd, e a lenda viva do contrabaixo Willie Weeks, compuseram a cozinha e fizeram a cama onde o Deus da guitarra deitou e solou.

Ele então buscou um violão e uma cadeira e deu início ao ato acústico da apresentação. Sentado, presenteou os paulistas com “Driftin’ Blues” e “Nobody Knows You When You’re Down And Out”, ainda que no clima ‘low profile’, foi cantada em uníssono. Ainda neste formato, “Lay Down Sally” encorajou os vocais femininos e antecedeu umas das mais aguardadas da noite: “Layla”. No entanto, não foi versão de “Unplugged” nem de “Layla And Other Assorted Love Songs”. É toda uma nova “Layla”, que surgiu da recente parceria com Wynton Marsalis. Pode ter decepcionado alguns fãs que esperavam o famoso riff e os solos do final, mas foi bem recebida.

De pé, Clapton voltou com sua Strato e iniciou a também aguardada “Badge”, composta em 1969 com seu amigo George Harrison, que levou o Morumbi à loucura, especialmente na parte do lendário riff.

Não poderia faltar a romântica “Wonderful Tonight”, que tocou os corações apaixonados e depois seu blues “Before You Accuse Me”. Aproveitando a pegada, “Little Queen Of Spades” do ídolo Robert Johnson, que foi perfeitamente interpretada. Foram tocados os primeiros acordes do hit “Cocaine” e o povo que permanecia bonitinho em suas cadeiras, levantou e grudou na grade, aos pulos. Eric Clapton riu.

Ele agradeceu e deixou o palco com sua banda, voltando minutos depois juntamente com Gary Clark Jr, que tocou o hino “Crossroads” com o ídolo. Fizeram duelos de solo e se divertiram bastante, como foi estampado no sorriso de Clapton, que ao fim agradeceu se despediu ao lado de sua banda. E assim foi como Eric Clapton, a lenda viva da guitarra, o ídolo de gerações, o senhor de 66 anos e uma das pessoas mais importantes ainda vivas, deixou o palco do último show no Brasil. E com o público pedindo mais, afinal 1h45 voaram como segundos.

Sem pirotecnias, efeitos especiais, playbacks, fogos de artífcio, porém com ótima qualidade sonora, perfeito trabalho dos músicos, a presença de um homem que foi chamado de Deus da guitarra nos anos 60, alguns concluíram e outros somente reafirmaram: “Clapton Is God”.

By TDM