Ando pela cidade e vejo as ruas desertas. Um silêncio sufocante traz-me à mente "O dia em que a Terra parou". Em meio às vertigens penso: estaria Eu em meio a uma cena de "Eu sou a Lenda"? Teriam os poucos humanos que restaram se refugiado nas galerias, debaixo das pontes ou algo assim? Seriam os carros e bancas de jornal apenas trincheiras acobertando os mais valentes? Onde Eu estava que não percebi? Não tenho idéia do que aconteceu. Vem-me a lembrança dos noticiários: Terremotos destruindo o que construímos aonde havia o verde, Tsunamis trazendo à terra firme o Mar (como num presságio de que tornaríamos a vida marinha inviável graças a incansável busca pelo ouro negro), o vento revolto em forma de tornados e furacões e a chuva. Ah, a chuva. Que tantas vezes lavou meu suor, embalou o meu sono, mudou meus caminhos, me apressou e me atrasou à sua vontade. A chuva que já me tocou enquanto beijava, enquando amava, chorava, pensava, ou simplesmente esperava. A chuva que, feito um Guerreiro-Vingador, vem dos céus e varre cidades inteiras. Com elas vão-se vidas, histórias, memórias, famílias. Vemos pela TV o drama dos outros que são como nós. Se do alto parecemos menores que formigas, não estaria a Terra finalmente se livrando de uma das suas pestes? Será isso? Serei eu apenas um sobrevivente, que por hora resiste ao revide implacável da Natureza? De repente um estrondo! Em meio ao susto percebo que são vozes, gritos vindos de todos os lados. Em seguida bombas e pessoas correndo. Não. Não se trata de nenhuma guerra ou ataque inimigo. Me recupero de um devaneio que parecia interminável mas que não levara mais que segundos. A comoção causada por um gol do Brasil na Copa em nada lembra aquele povo que, pouco antes, lamentava a sorte dos seus irmãos pátrios. E mais latinhas, garrafas e todo tipo de lixo são lançados ao chão à espera de outra chuva. Mas qual o problema, não é verdade? Afinal estamos no controle de tudo e somos absolutos neste mundo. Não seria a Natureza capaz de nos desviar de nossos caminhos. Seria?