sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A Tarefa da Música na Socioculturalidade

Por: Ramon Domingos

Hoje farei um post diferente, não vamos tratar de assuntos específicos tais como termos técnicos ou teóricos.
Dissertarei hoje um pouco sobre a música no processo sociocultural e na tarefa de construir seres pensantes, críticos e analistas.
Sim.. Acredito que a música tem um papel fundamental na formação ideológica de um indivíduo.
O que você anda ouvindo ultimamente? Porque você está ouvindo isso? O que isso está acrescentando na sua vida?
Bom, no meu caso eu sigo ouvindo um pouco de tudo, Rock, Fusion, Jazz, algo que me rentabilize um pouco nas questões sociais e profissionais.
Mas e você? O que anda ouvindo?
O Brasil tem uma cultura muito rica, mas isso aos poucos vai se dissipando e dando lugar a cultura de massa, algo que realmente é muito deprimente, não vemos mais nomes como Ary Barroso, Elis Regina, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, circularem por aí quando o assunto é Música Popular Brasileira, nossas queridas Bossa Nova e MPB até mesmo nosso samba estão perdendo espaço para a cultura midiática e descartável do momento, tais como, Sertanejo, Funk, Axé, e outros elementos que conhecemos por música pouco evolutiva no sentido ideológico e crítico.
O próprio termo sertanejo que doutrinou Tião Carreiro e Pardinho, Dino Franco e Mouraí, Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho e que relatavam a dura vida do povo sertanejo, hoje teve seu estilo totalmente readaptado à cultura de massa, ou seja, algo voltado para seres não pensantes ignorantes e de visão limitada, criou-se então o termo “Sertanejo Universitário”, mas desde quando pegando como base as ideologias primordiais da cultura sertaneja, um sertanejo é universitário? E em que ocasião um universitário é sertanejo? Inversão de Valores? Por isso que digo que são músicas de seres não pensantes, para seres não pensantes, não precisamos refletir muito para perceber que se contradizem até no próprio nome.
Será que as incríveis e verdadeiras duplas sertanejas do passado com suas músicas recheadas de boas histórias e cultura estão satisfeitas com esse novo legado musical? Acho que não hen!!??
E infelizmente essa realidade tende sempre a piorar, o que já era terrível na voz de Chitãozinho e Xororó, Zezé de Camargo e Luciano piorou com Rick e Renner, e agora vem torturando nossos ouvidos com coisas como Fernando e Sorocaba, Luan Santana entre outros.. Confesso que só consegui ouvi o primeiro minuto do novo hit da música “Meteoro da Paixão” Sim, é um lixo para os cultuadores da boa música é um grande lixo, lixo não reciclável. Esse rapaz que me perdoe, mas conteúdo musical e ideológico passam longe de suas composições se é que podemos classificar esse dejeto cultural como composição.
Sem deixar de fora o Rebolation, Tion, Tion, bom como toda banda de Axé/ Funk no próximo verão ninguém mais saberá quem foi o energúmeno que criou essa porcaria, partindo de um pressuposto que toda banda de Funk dura apenas o verão de cada ano, depois desaparece da mídia e volta a traficar nas favelas do RJ, mas é verdade, foi assim com o Bonde do Tigrão, foi assim com a Tati Quebra Barraco, com as beldades da Éguinha Pocotó, sem obviamente esquecer do Créééu!!! Cadê o Créééu, desapareceu!!!
Mas e as nossas verdadeiras culturas, vamos incorporar essa realidade como identificação do povo brasileiro?
Pode parecer loucura, mas se sairmos perguntando rua afora quem foi Lupicínio Rodrigues, Pixinguinha, Ary Barroso, Adoniram Barbosa, o povo não tem idéia de quem são ou foram essas pessoas, e qual sua influência dentro do contexto cultural, até nomes mais específicos como Toquinho, Tom Jobim, Djavan, Chico Buarque já estão sendo esquecidos.
Ou seja, nosso povo não tem cultura própria, nós não sabemos nada sobre nós mesmos, sobre nossas origens. Vivemos de personalidades momentâneas cada semana temos um cidadão sendo cultuado como ícone do momento, como personalidade a ser seguida, logo mais aquele ser que era tão aclamado já não existe mais, se afoga outra vez no mar da anônimidade e isso se torna um ciclo, de constante movimentação, e aquela galera que faz Bossa Nova, MPB, Jazz, Blues, enfim música de qualidade fica em segundo plano, conheço e convivo com ótimos músicos de Bossa Nova, Jazz, MPB, músicos talentosíssimos, que valorizam a boa música, como forma de cultura e ideologia crítica, mas o brilho desses músicos são ofuscados pela mídia momentânea.
A culpa é de quem? A culpa é nossa, somos responsáveis pelo nosso próprio descaso cultural não vejo isso como um problema do estado ou coisa assim, é muito fácil colocar a culpa no governo que não oferece subsídios socioculturais, porém antes, devemos nos perguntar... O povo brasileiro está a fim de conhecer sua própria cultura? Muitos não estão!
Concordo que o estado não oferece muitos recursos para isso, mas em contrapartida vale salientar que temos muitos projetos não governamentais que visam através da música uma sociocultural idade mais ampla, logo concluiu que... As oportunidades, no caso as fontes culturais estão aí, basta você ir atrás.
Foi pensando em todo esse descaso que juntamente com um amigo, também músico elaboramos um projeto chamado “Música para Todos” que visa trazer um pouco da cultura musical brasileira a centros sociais e entidades carentes para pessoas acima de dez anos, o projeto está em fase final de elaboração, e será aplicado na cidade de Santa Bárbara D Oeste, moramos e trabalhamos em Americana-SP, resolvemos desenvolver o projeto na cidade vizinha, pois o cara aqui que se diz prefeito da cidade, cujo atende por Diego Denadai, no início de seu mandato teve a audácia de demitir todos os profissionais das áreas de dança, música e arte que eram vinculados a prefeitura então certamente aqui na cidade, não teríamos sucesso com o projeto.
Vale salientar que agora no meio do ano, teremos na cidade de Americana, o evento nacionalmente conhecido como “A Festa do Peão”, diga-se de passagem, um evento ridículo, mas que rende muito monetariamente falando.
Isso sim a prefeitura está disposta a fazer, pois tem público tem destaque tem dinheiro, disso eles gostam, por isso, eles se interessam, então classificam isso como um evento cultural, elaboram uma mega-organização e o evento se concretiza.
Mas e para a população, o que isso rende?
Diversão?? Lazer?? NÃO!!! Isso é o mais puro princípio do PÃO E CIRCO usado na idade média para enganar a sociedade, você vai lá ver aqueles dejetos musicais e esquece que o governo continua te sugando, você vai lá para ver o show dos pouco ideológicos Victor e Léo e esquece que para ter uma educação descente você tem que pagar fortunas, nossa sociedade é burra, é hipócrita e alienada o estado ainda consegue controlar todos vocês com uma tática primordial e todos acham lindo e se divertem por duas ou três horas, o show acaba, volta tudo ao normal, ou às vezes até pior, o povo sai até mais alienado.
Não há incentivo, mas também não há procura, o estado certas horas nos venda e nos aniquila através da cultura barata e descartável, mas também são poucos que querem tirar a venda.
Em 2008, o renomado jazzista Stanley Jordan, veio ao Brasil para um show beneficente, entrada franca, porém havia 17 pessoas presente, não houve divulgação, não houve incentivo, mas também não houve procura pela música boa e descente provocativa no sentido moral e ideológico.
E então seguimos nessa mutualidade instantânea onde não há incentivos, mas também não há procura, então não podemos nos cegar e jogar toda a culpa no sistema, uma sociedade pensante comanda, e nunca aceita ser comandada.